sábado, 14 de março de 2009

Você fala "errado"?

Eu não sei se é com todo mundo que acontece isso, mas ultimamente estou sendo bombardeada por um turbilhão de informações e novos paradigmas, o que ás vezes me assusta. Quando a gente baixa alguma coisa na internet é muito fácil. A gente organiza tudo em pastas e fica tudo guardado lá no computador. Mas e com as informações que a gente quarda dentro da gente? Organiza em pastas também? Bom, não sei. Como estudante do curso de Letras, tive que largar a maioria dos velhos paradigmas para deixar espaço para os novos. Um exemplo é a questão da gramática e as suas picuinhas. Todo mundo está acostumado com aquela professora de português que fica te corrigindo a aula inteira falando que isso ou aquilo está errado. Na verdade as coisas não funcionam bem assim. Esse tipo de pensamento apenas faz com que a gente se prenda num mundinho de preconceitos culturais e linguísticos. Até porque na própria gramática existem várias contradições. Eu bem que imaginava que as coisas não funcionavam bem assim. Como eu nasci na cidade de Piracicaba, convivi toda a minha infância ouvindo o sotaque caipira típico piracicabano e ouvindo muito meu pai e meus avós falando sobre o Cururu. O Cururu é um desafio cantado, basicamente tocado com a viola em que os cantadores fazem a letra na hora. Meu tio avô Nhô Serra era muito correcido na região. E eu como ainda era muito nova pra entender essas coisas, pra mim era um monte de caipira falando "errado" e eu falava: não, eu quero é rock! Hoje eu entendo que se eles cantassem tudo aquilo como as pessoas acreditam que seja o "certo", o cururu não seria o cururu. São essas particularidades no modo de falar que fazem a cultura de uma região. Esse não é o jeito errado. É apenas um jeito diferente. Um desses cantadores de cururu, chamado Pedro Chiquito, explicou de uma forma poética e com o vocabulário típico, de onde surgiu o cururu:

"Me falô os antepassado
De uma lenda que existiu:
Santo Onofre e São Gonçalo
Um dia esses dois reuniu.
Da barba de São Gonçalo
Retiraram 12 fio;
Encordoaro na viola
Com toêra e canotio.
Desse dia por diante
Foi que o cururu existiu."

Mas não se preocupe. Assim como dizia Thoreau, "nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos."

4 comentários:

  1. O que as pessoas fazem com a nossa língua portuguesa é um desastre!

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  2. Ow my god! Já ouvi falar do tal "cururu" mas nunca presenciei tal ato, deve ser no mínimo interessante. Mas é exatamente assim, achamos que está errado aquilo que é uma cultura de determinada região, vai entender. rs!

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  3. Eita saudade mesmo! Queria muito estar aí com vocês, ainda mais agora que você é Senhora Hermis Morais ;)
    Adorei seu blog, não disse que você tiraria de letra? Parabéns!
    Falando em cururu, ah eu presenciei isso bem de pertinho, ha.

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  4. Eita...bem se vê fia de quem ôce é...

    Intão la vai uma trova de cururu só pro cÊ...

    se prepara Nhá Samara
    que essa vai daqui pra lá
    Saí um dia de Piracicaba
    Não sei onde quero chegá
    Só sei que ja fui bem longe
    To mai pra lá do que pra cá
    Rio Preto que me espere
    Pra mór de a Samara um rock cantá

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